Daqui a um dia e algumas horas será oficialmente o meu décimo sétimo ano de vida completos. Sabe o que me agrada nisso? Eu gosto dessa idade. Sabe o que não me agrada? Nem eu.
O fato não é a idade, é o meu estado de espírito.
...Alguns anos atrás em algum lugar perdido do espaço...
Hei mãe, já estamos em Abril? Ainda não, falta muito? Trinta? Trinta dias são muitos? Passa rápido? Não, mãe, passa devagar, vai demorar muito ainda...
Me apoiava no armário para enxergar mais alto e riscava um quadradinho. Ao todo, eram quatro em horizontal e cinco na vertical, o que significava faltar ainda mais 19 dias.
Esses foram um dos poucos momentos da minha infância em que a matemática esteve presente como uma coisa satisfatória, mas ela estava lá, ao menos. E então, dois quadradinhos antes do grande dia, eu já estava praticamente surtando de emoção. Confirmem com a Débora, que me conheceu na 5ª série.
Daí os quadradinhos foram acabando de vez, nas folhas e na mente. E de quadradinhos só sobrou os cubos com seus a^3 etc,etc,etc.
...E até que eu gosto, sabe?
"Algumas pessoas não deveriam pensar sobre determinados assuntos. Isto poderia ser uma premissa para uma futura mutação, quem sabe seleção natural."
Mas, sabe, eu acabei pensando.
Pensei o porquê de as pessoas ficarem não tão felizes com o aniversário ao ponto de não festejarem. Como? E tentei ver o mundo pelo ponto delas.
A operação foi um sucesso. Eu consegui e as compreendi perfeitamente. Só tem uma coisa: eu não sabia onde eu iria chegar com isso, que significou a origem do final dos quadradinhos. O ponto inicial. O Big-bang. A origem do mal. UMA SALADA MISTA.
Depois de ler isso você me pergunta: e daí, o que você quis dizer com esta história?
Eu quis dizer que o armário mudou, as folhas sumiram e os quadradinhos da folha saíram de lá, se materializaram em tudo que vejo, que penso e que escrevo. Aqui estão os quadradinhos, podem ver? Mas relaxa. Se nunca houve quadradinhos em sua vida em uma folha de papel A4 em que para riscá-los você precisava se apoiar num guarda roupas, não é o fim do mundo. Com certeza houveram outras coisas, você só nunca encarou-as desta forma. Pense no cachorro, na pedra, no anel mágico que você perdeu (aliás, eu perdi um mesmo), na esquina que não sai da sua mente por algum motivo desconhecido. Um cheiro, uma cor, um ruído, uma textura. Um sonho. Uma esquina.
Certas coisas exigem idade pra você falar com autoridade, mas até la, ainda há muitos quadradinhos para serem riscados.