quinta-feira, 27 de junho de 2024

 Agora eu entendo melhor a vida. 

Comecei a escrever neste blog há mais de dez anos, e entre idas e vindas, é inegável o quanto cresci. Para muitas das minhas antigas dúvidas acerca da vida e da sociedade em que vivemos eu já tenho guardadas as respostas em meus bolsos. 

Não posso fingir inocência, não há tempo para isso. É uma frase feita antiga - a vida urge, mas acrescento: não para todos, mas para a maioria. 

Digo com a propriedade de quem mal tinha dinheiro para comprar lanches nos intervalor do colégio no ensino fundamental, e, mais tarde, de quem enfrentava a fila do ônibus - BRT para ir ao pré vestibular, e demorava 2 horas para ir, e 2 horas para voltar, muitas vezes em pé. 

Não pude me dar ao luxo da tranquilidade. Agora talvez até possa, em determinados momentos, mas demorou mais de uma década para chegar até aqui. E, olha - às vezes a tranquilidade é até chata, viu?!

No momento, minha vida está mais ou menos estabilizada. Para minha vida, infelizmente, me refiro principalmente à área profissional. Tinha colocado uma meta há um ano, e fiz exatamente o que tinha pontuado mentalmente, sem tirar nem pôr - exceto vários plantões extras. Estou, então, parcialmente satisfeita, mas às vezes eu olho pra mim mesma e fico querendo entender exatamente quem eu sou, e o que eu almejo a partir daqui. Sinto que falta algo - talvez fora do aspecto profissional. Não tenho pressa, porém não quero parar  no tempo. Quem me vê tranquila e sorridente, não sabe que eu tenho em mente prazos e metas até mesmo inconscientemente estipulados, e isso me deixa ansiosa. Tranquila, porém ansiosa. 

A tranquilidade me veio a partir do momento em que consegui me sustentar. De fato, precisamos de algum dinheiro para podemos viver normalmente, ou seja - garantir alimentação, deslocamento e morar em um lugar digno, e tudo isso está muito caro hoje em dia. Mesmo recebendo satisfatoriamente, com dívidas para pagar, você sempre fica naquele redemoinho de pensamentos - quero curtir a vida, mas tenho dívidas para pagar, e a aposentadoria? Quero comprar uma casa, mas e a viagem? Quero dinheiro, mas daí preciso trabalhar, e descansar é importante pra viver bem, e viver bem é importante pra ter um futuro e usufruir da aposentadoria. E por aí vai. 

Nesse redemoinho de pensamentos com recheio de coco + ansiedade, você se permite viver. E, jjá não precisando se preocupar tanto com a parte profissional, se questiona: quais são meus hobbies? O que faço com meu tempo ocioso? O que eu gosto de fazer? Para onde eu vou, além de shopping? 

Você pode não saber responder essas perguntas porque, oras, tudo o que você pensou até hoje foi acerca de emprego, vagas, concorrência e atendimentos. E tudo bem, cada um tem a sua própria história. 

Talvez as suas dificuldades não sejam as mesmas das outras pessoas. Talvez tudo o que eu disse até aqui foi pura balela pra você. E isso foi mais um ponto que a maturidade me trouxe.

Agora, posso entender que o mundo não gira em torno de mim, e não preciso ficar me explicando para cada pessoa o motivo de eu ser quem eu sou. Todo mundo tem os seus próprios motivos. E sabe o que resta? Pegar os seus próprios motivos de ser quem você é, juntando as glórias, derrotas, lembranças, triunfos e traumas, fazer uma grande massa, como partes de uma massinha, e criar uma bela escultura. É, novamente, aquela velha frase já cansada - o que você faz do que fizeram com você. 

Não adianta ficar apontando o dedo, ficar choramingando, se lamentando. É duro, mas a vida não é fácil mesmo. Você tem que filtrar muita coisa pra sair ileso - ou inteiro, pelo menos. 

O importante é saber que existe sempre algo melhor pra se sonhar, e sempre algo do que se orgulhar. Pode se orgulhar de ser um bom filho, bom irmão, de ter levantado da cama e lavado a louça. De ter ganhado o prêmio Nobel, de ter escrito um best-seller. De ter sido um ótimo amigo pontualmente num determinado momento...

E pode sonhar grande, pois, como diz aquele velho ditado, sonhar grande e sonhar pequeno dão o mesmo trabalho. Às vezes, sonhar grande te levará pra um caminho que não necessariamente é para onde você sonhou, mas levará mais longe do que se tivesse sonhado pequeno. 

Hoje em dia, após 11 anos da época do pré vestibular, eu passo pelo BRT no mesmo caminho que eu fazia antigamente e eu entendo o cansaço das pessoas do ônibus, o sacrifício para ir e voltar e até mesmo a desesperança. Agradeço aos meus pais que me deram a oportunidade de pegar o ônibus para ir estudar, em vez de trabalhar, e tinha noção de que aquilo ali era uma fase. Eu sempre aponto pra frente, e acho que deve ser esse o sentido da vida. Mas confesso que, se não desse pra estudar, eu teria ido trabalhar com um livro na mão, lendo em pé mesmo, dando meu jeito. Acho que, às vezes, o segredo da vida é ir na contramão do senso comum - quem lê em pé num ônibus?

Enfim, vim aqui porque estava inspirada e queria escrever fazia um bom tempo. Ainda estou tentando me entender no quesito pessoal e me encontrar, como uma adolescente tardia que não viveu propriamente a sua adolescência ( embora eu não goste desse termo) mas talvez seja isso mesmo.

Não vou me alongar muito aqui. 

Até breve, senhores!

terça-feira, 2 de janeiro de 2024

Calma

 Se me veres assim parada

Mexendo em alguma coisa aparentemente desimportante 

Nesse espaço de tempo que vos escrevo 

saiba que estou muito ocupada 

Mais do que poderias julgar. 

Por isso eu peço um tempo 

para me reorganizar 

não sei em que momento me enrolei

Em um carretel de obrigações 

e nunca mais fui aliviada 

quanto mais tento, menos consigo 

e por vezes me distraio e me sinto aliviada

Em todo canto há afazeres, pendências e contratempos

Há contas a pagar, há ofertas imperdíveis, há holofotes, aplausos e discussões

Eu quero é paz 

Dá-me um pouco de sossego 

Onde é que se acha esse produto no mercado?

Deixe-me ocupar-me de meu ócio 

Meu silêncio que muito tem a dizer

O barulho das estrelas, o soar do vento

A algazarra de um dia calmo após um feriado turbulento 

Não quero sair 

Não quero me distrair

Quero apenas sentir o momento

Pois aqui estou, sou e existo 

E para chegar até este momento, corri até aqui

Deixe que dele eu desfrute.

Hoje eu não quero sair.