quarta-feira, 22 de janeiro de 2020

Sem título

Hoje eu não tenho inspiração. Nem para mim, nem para você. Não tenho aspas. Não tenho vírgulas. 

Hoje eu sou só ponto final. 

Não quero versos, recuso estrofes.

Passo adiante rimas bem intencionadas.

Delimito metáforas. Substituo comparações.

Limitar-me-ei a palavras.

Palavras puras, beatas, cruas.

Palavras, só. Palavras.

Não sei o motivo. 

Não quero procurar também.

Às vezes as palavras murcham.

Com razão, tão mal utilizadas por aí

Podem cansar-se de vez em quando.

Coitadas das palavras

Se eu fosse uma, agora mesmo

Iria pedir para não ser utilizada.

Ficaria calada. Cismada

Até entender o momento exato

Para o qual nasci

Pra ser utilizada

Uma vez falada, transbordaria

As margens de uma palavra

E tornaria real

Cada letra do meu corpo, inflamada.

Como não sou palavra

Ainda acho que em nenhuma frase

Sirvo pra ser configurada.

Sigo calada,

São os meus dedos que cismam

Em digitar palavras.















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