quarta-feira, 19 de outubro de 2022

Certo incerto

Onde eu defino

O quando do término de algo? 

Seria o último adeus? E se não houver adeus? 

A última conversa? E se não houve última conversa? 

O último olhar? E se não me lembro?

O último beijo? A última memória? 

E se não sei quando termina 

Posso considerar que terminou? 

Mas afinal, o que tínhamos mesmo? 

Eu conheci sua mãe. Eu soube do seu pai. 

Falei oi pro seu irmão. Entrei na sua casa. 

Mas não éramos namorados. Éramos então o que? Conhecidos? 

Terminamos como desconhecidos

De algo que nunca aconteceu? 

E as conversas que não tivemos 

Ficaram subentendidas? 

Isso não me soa bem

Fico querendo falar contigo 

Penso e repenso em mandar um “oi”, vamos conversar 

Sermos então amigos 

Porque na sua vaidade, você era doce

Mas um doce que eu não sentia 

Um doce que eu só admirava 

Como uma pintura frágil de 500 anos 

Que se tocar, se esvai 

Um pergaminho valioso 

Não soube te decifrar 

E não sei se você se conhece

A sua indiferença me entristece

Talvez eu não te queira, afinal 

Correr atrás do que nunca foi meu 

Acho que pode me causar mal. 


Tem gente que vai embora fácil, que é escorregadio. 

Livre leve e solto, não se esforça também para ficar

Tem muito o que pensar e fazer, 

E mais ainda pra se distrair, então acaba não retornando

Não retorna uma mensagem, uma justificativa,

Não retorna um porquê

E não retorna, simplesmente.

Porque a vida é bonita demais para ficar remoendo pequenitudes breves

E se já não fosse mesmo dar certo, e se demandava uma certa energia, percebida por nós,

Você devia estar bem sem fazer tanto esforço no seu canto belo. 

Sua casa, seu lar

Seu cafofo quentinho e sossegado

Longe do ruído de quem tem muito o que fazer 

Lá no último andar do prédio da zona sul 

Com uma vista de doer do Cristo Redentor e do Pão de Açúcar 

E da Baía de Guanabara

Que cintila de cima, e que de perto, fede 

Ouve os sambas que criticam a sociedade 

Com seu vinho no copo Stanley

Que no outro dia eu paguei porque o seu cartão não passou

Ainda bem que nós combinamos tanto

E que eu sou tão escorregadia quanto.


terça-feira, 18 de outubro de 2022

Desmentida

 Nada do que eu falo está bom

Tudo que digo é um exagero

Tudo que pontuo é detalhe

O que for relevante, é coincidência

O que for bom é plágio

O que for engraçado, é bobo

Se sorrio é patético

Se choro, drama

Se sofro, é pouco

Se aproveito, ilusão

Se ganho, é fraude

Se ajudo, é dispensável

Se corro, é adiantada

Se ando, lerda

Se desvio, indecisa

Se não sei, idiota

Se esqueço, desnorteada

 Se hesito, insegura 

Se param,

Continuo. 

sexta-feira, 23 de setembro de 2022

Azul e alma

 Hoje eu estou me sentindo insuficiente. 

Hoje eu estou num paradigma. 

Como se estivesse sobre um penhasco, encarando-o. Sou eu quem o encara ou ele que encara a mim? 

Eu afundo nele ou ele se afunda em mim? 

É o oceano do solo que reflete em meus olhos ou sou eu que reflito nele? 

Não sei o que faço. Não sei o que sinto. 

Se pulo pro penhasco, ou o deixo devotar-me. Não seriam ambos a mesma coisa? Pra quê encaro esse penhasco, se sei que não posso confrontá-lo? Se suas muralhas são infinitamente mais sólidas do que meus músculos? Minhas razões e meus motivos? 

Continuo a encará-lo. Não sei por que sou, por que estou. Mas fico. 

As minhas convicções são maiores que as minhas certezas. Por elas eu luto. 

E são elas que me convencem que há um motivo para estar. 

Mas sabe.

Talvez eu não quisesse convicção. Apenas queria ser o oceano. Ali, tranquilo, convivendo e abraçando o abismo, que faz dele até obra de arte, num azul profundo e calmo. 

Eu sou profunda e alma. 

Me deito e olho o azul do céu. Que me abraça. 

E me desfaço em certezas. 

segunda-feira, 27 de junho de 2022

Um hobby

 Não sirvo pra ser escritora.

Por tempos, pensei em sê-lo. Imaginei que por conversar sozinha com meus textos daria uma boa contadora de histórias. Não dou. 

Textos são criados para serem lidos, eles têm uma história pra contar, início meio e fim de algo interessante. E analisando os meus textos, encontro um redemoinho de pensamentos extravasando de um copo cheio. Um copo transbordante. Um copo com tédio. E a partir desse contexto, analiso que eu sou o copo.

Quando o copo tiver histórias para contar, daí então, eu prometo que palavras serão escritas para que histórias sejam lidas. De nada adianta uma boa gramática se o conteúdo é chato. Portanto, parei. 

Noto que nos momentos que mais estava ocupada, engajada, pouco escrevi. Deve ser porque não sou escritora. O escritor vive e, depois de um dia agitado, pede licença aos convidados para fazer o seu ofício em seu escritório. É uma obrigação, não uma escolha. 

Meus textos são hobbies. Não sei como transformá-los em profissão. Preciso ter histórias para contar. 

Portanto, vou atrás de histórias. 

Assim que as obter, eu as carimbo aqui. 

Até mais ❤️


quinta-feira, 16 de junho de 2022

carta à minha menina

Quanto tempo eu não apareço por aqui, hein??
Pois bem... quantos acontecimentos não relatados!!!
Muita água já rolou!
Já vivi coisas que eu não imaginaria
Já me banhei em rios antes inexploráveis 
Já percorri morros com mata  nativa
Abrindo a mata com um facão cego!
Isso se a vida fosse uma floresta.

O que cabem nos meus 27 anos?
Com certeza, essa mulher, se assim já consigo me enxergar, teria muito, muito, mas muito mesmo, um tanto, a dizer pra menina de 18 anos! Ou a de 15, então!

Pois a menina de 15 e a de 18 eram quase uma criança! Muito pouco vivido, muito pouco explorado! 
A menina de 15 e de 18 acreditava muito ainda em conto de fadas! A de 27 ainda acredita, porém com uma dose extra de realidade e de apropriação de si mesma e da própria vida. A de 27 anos não senta e fica esperando tanto dos outros, já sabe que tem que caminhar com as próprias pernas, e que a vida não é fácil e que é a somatória das nossas escolhas. 

A de 27 anos se orgulha pela menina que foi aos 15 e aos 18 anos, também! E se eu pudesse, eu voltaria no tempo para abraçá-la e dizer um "muito obrigada"! Olha até onde nós chegamos?! Olha o quanto conquistamos?

Valeu a pena...
As viagens de transporte público precário, acordando cedo e batendo cabeça no caminho.
Valeu a pena persistir apesar das dificuldades
Valeu a pena acreditar que você era um pedaço importante do quebra cabeça da vida
Valeu a pena esperar o dia seguinte, e viver um dia de cada vez, pois o próximo poderia guardar algo melhor, quando as coisas não iam tão bem
Valeu e vale sempre a pena!
Sonhar não é em vão
E se não for sonhar por você mesmo
Ajude outras pessoas a sonharem e a encontrarem o seu propósito 💖💖💖