Não que fosse necessário, mas meu pedido único é que imagine, caro leitor, ao menos por hora. Então lá vamos nós. Para que vivesse bem, ele não era capaz de desimportar. Tudo em sua plenitude, em sua necessidade, lhe consumiam as forças. O ar que respirava. A fita que sobrava. A mensagem não lida ou lida. A hora do almoço. A necessidade de conseguir, a falta crônica. Tudo o era preenchível, deixando-o um pouco de tudo.
Contudo, de tanto recolher respostas, perdera-se em suas próprias ponderações. Não sabia mais onde estava, quem se tornara. Sua juventude estava ameaçada. Sentia-se como um quadro surrealista.
Foi aí então que soube. Caro leitor, compreenda, o intuito aqui não é abordar o modo como ele soube, se me permite abafar sua curiosidade, mas não é isso, é que tenho outras tarefas para fazer. Porém, vou abrir uma exceção para evitar dismorfias no corpo do texto. Após ultrapassar uma porta, uma porta em um beco por onde o personagem nunca havia entrado. Então, aí, ele pôde ver seu futuro, de algum modo. ele pode sentir-se ali. E ele sentiu algo que seus hábitos não o proporcionavam, nem sua coleção de certezas: Calma.
E, sabendo que ficaria tudo bem, ele fechou a porta. Mas não a transpassara! Voltou pelo mesmo beco por onde entrara, e caminhou. Ao olhar para trás, o beco não mais ali estava. Fora um sonho?
Chegou em casa, tirou os sapatos. pensou em coloca-los na mesma prateleira onde sempre colocava. Mas os deixou do lado de fora, perto da porta, jogados no chão. Pensou em esquentar a comida. Um impulso o fez postergar para dali a pouco. Andou. Jogou-se no sofá. Fechou os olhos por um instante e sorriu, sem querer, pois era como se uma brisa leve tocasse seu rosto, numa tarde de calor, afagando seus cabelos gentilmente.
Ele sabia! Estava tudo certo. Sem pressa, aos poucos, tudo tem sua hora, pensou, e, mais do que isso, sentiu. Ainda podia sentir a sensação de estar do outro lado da porta. O seu futuro estava ali, o esperando, para recebe-lo. E sentiu-se tão grato que, por tanta gratidão, decidiu dar ao presente sua calma, pois com sua calma, ganharia também seu coração, colocando-o em tudo que fizesse, não para depois, mas a partir de agora, pois o futuro começa daqui a pouco.
E, assim, fechou os olhos, seguro de que, por mais que aquela sensação passasse, ele não esqueceria, e jurou depositar a sua fé no dia de hoje. Pois, naquele momento, teve a certeza de ser uma boa pessoa. Não precisou mais recolher emoções, histórias, sentimentos. Ele era ele. Ele não era a competição que ele sentia ao redor. Ele não era o número de vagas. Ele não era a pressão que ele mesmo se impunha. Ele era o presente dele mesmo e dos outros, no presente.
Qualquer coisa que vem à minha cabeça. Aqui, você pode encontrar desde uma obra prima até uma obra. Bem vindo e retire os sapatos! Você está entrando nos meus pensamentos. Uhauhauhahuah
segunda-feira, 30 de abril de 2018
quarta-feira, 25 de abril de 2018
Se tem uma palavra da língua portuguesa que é gostosa de sentir é ternura. Pra mim, ternura é a expressão do amor. Ternura é inatingível se não for genuíno. Apesar disso, eu vejo ternura em situações bobas do dia a dia.
Sinto ternura e é quando vejo que amo minha avó, única viva por parte de pai e de mãe, quando ela escreve no whattsApp sozinha, sem que ninguém a ajude, em sua casa, falando que está "em horacao por todos voces". Assim, sem til, sem cedilhado no "c", sem acento circunflexo. Porém a horacao dela teve muito mais charme porque eu sei do seu verdadeiro sentido. Eu sei que a horacao não será apenas escrita, que ela será sentida, feita e desejada. Sei do amor que existe por trás de cada palavra na minha tela que aparece. Sei que tudo isso é fruto da inteligência dela e da vontade de estar perto das filhas, mesmo com suas seis casadas e já com seus próprios filhos. Apesar dos seus esquecimentos, da sua eventual tristeza ocultada, do esforço para andar, das breves, porém presentes, reclamações pontuais. Minha avó conta suas histórias como se tivessem sido vividas ontem. História de vida bem triste, porém repleta de superação que é o pilar de uma família grande, se construindo. Muito foi feito porque ela se superou. E hoje está aí, no WhattsApp, enviando mensagens, preocupada com as filhas que voltam tarde pra casa e com os netos. E ainda sorrio com suas mensagens: desorganizadas, surpreendentes, fora de ordem, desconexas, que quase ditam o esforço do aprendizado. Mas uma hora, a mensagem vai, e a gente lê, todo bobo, com carinho. Desse tipo de avó que dá mesmo vontade de abraçar pra sempre. Uma mensagem pra cada filha, e sempre uma oração pra todo mundo, ou horacao, que é a melhor dos mundos.
Outra forma boba de sentir ternura é com o segurança da porta de entrada dos fundos da minha faculdade. Normalmente, ele estaria ali hoje, mas deve ter sido promovido a guarda da frente, pois mudou de posição. Fui indo como sempre pra faculdade, mochila nas costas, com um Sol bonito no céu. Passando pelo portão, lá estava ele de guarda, como sempre, e eu, já acostumada. Então ele me acenou e disse: "boa aula!" e sorriu. Foi um gesto simples, porém me transmitiu uma tranquilidade e retidão, e ternura, que poucos bons dias são capazes de oferecer. E eu vi como eu sou mesmo boba, quando no ano passado, quando eu disse isso à minha terapeuta, ela riu, e eu, rindo, quase chorei, foi por pouco. Porque o amor é fácil de ser transmitido, só não é fácil estar aberto para isso, a ponto de percebê-lo. Quando você o percebe, você o multiplica, porque ele é contagioso. Mas não se pode cultivá-lo em laboratório, precisa-se vivê-lo se quiser usufruir de seus benefícios, e ensiná-lo.
Sinto ternura e é quando vejo que amo minha avó, única viva por parte de pai e de mãe, quando ela escreve no whattsApp sozinha, sem que ninguém a ajude, em sua casa, falando que está "em horacao por todos voces". Assim, sem til, sem cedilhado no "c", sem acento circunflexo. Porém a horacao dela teve muito mais charme porque eu sei do seu verdadeiro sentido. Eu sei que a horacao não será apenas escrita, que ela será sentida, feita e desejada. Sei do amor que existe por trás de cada palavra na minha tela que aparece. Sei que tudo isso é fruto da inteligência dela e da vontade de estar perto das filhas, mesmo com suas seis casadas e já com seus próprios filhos. Apesar dos seus esquecimentos, da sua eventual tristeza ocultada, do esforço para andar, das breves, porém presentes, reclamações pontuais. Minha avó conta suas histórias como se tivessem sido vividas ontem. História de vida bem triste, porém repleta de superação que é o pilar de uma família grande, se construindo. Muito foi feito porque ela se superou. E hoje está aí, no WhattsApp, enviando mensagens, preocupada com as filhas que voltam tarde pra casa e com os netos. E ainda sorrio com suas mensagens: desorganizadas, surpreendentes, fora de ordem, desconexas, que quase ditam o esforço do aprendizado. Mas uma hora, a mensagem vai, e a gente lê, todo bobo, com carinho. Desse tipo de avó que dá mesmo vontade de abraçar pra sempre. Uma mensagem pra cada filha, e sempre uma oração pra todo mundo, ou horacao, que é a melhor dos mundos.
Outra forma boba de sentir ternura é com o segurança da porta de entrada dos fundos da minha faculdade. Normalmente, ele estaria ali hoje, mas deve ter sido promovido a guarda da frente, pois mudou de posição. Fui indo como sempre pra faculdade, mochila nas costas, com um Sol bonito no céu. Passando pelo portão, lá estava ele de guarda, como sempre, e eu, já acostumada. Então ele me acenou e disse: "boa aula!" e sorriu. Foi um gesto simples, porém me transmitiu uma tranquilidade e retidão, e ternura, que poucos bons dias são capazes de oferecer. E eu vi como eu sou mesmo boba, quando no ano passado, quando eu disse isso à minha terapeuta, ela riu, e eu, rindo, quase chorei, foi por pouco. Porque o amor é fácil de ser transmitido, só não é fácil estar aberto para isso, a ponto de percebê-lo. Quando você o percebe, você o multiplica, porque ele é contagioso. Mas não se pode cultivá-lo em laboratório, precisa-se vivê-lo se quiser usufruir de seus benefícios, e ensiná-lo.
terça-feira, 24 de abril de 2018
Talvez se eu desconhecesse o ódio, eu sofresse menos com ele. Se eu desconhecesse a inveja, talvez eu fosse menos afetada, e pudesse viver minha vida sem percalços. Se eu desconhecesse a desigualdade, eu viveria com menos pesar em minha consciência. Se eu desconhecesse a cobiça, talvez eu precisasse pensar menos. Se eu desconhecesse a maldade, talvez eu sorrisse mais como sorria quando criança.
Contudo, conhecendo o ódio, eu posso disseminar o amor. Conhecendo a inveja, eu posso me blindar e não alimentá-la. Conhecendo a desigualdade, posso lutar por um mundo mais igual. Conhecendo a cobiça, posso cobiçar o bem. Conhecendo a maldade, posso me prevenir que algo de mal aconteça e estar mais preparada para situações futuras.
Não vivemos apenas nossos desejos, vivemos a realidade, e estamos aqui não para ignorá-la, mas para fazermos parte dela e transformá-la ativamente. Para isso, vivemos.
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