Se tem uma palavra da língua portuguesa que é gostosa de sentir é ternura. Pra mim, ternura é a expressão do amor. Ternura é inatingível se não for genuíno. Apesar disso, eu vejo ternura em situações bobas do dia a dia.
Sinto ternura e é quando vejo que amo minha avó, única viva por parte de pai e de mãe, quando ela escreve no whattsApp sozinha, sem que ninguém a ajude, em sua casa, falando que está "em horacao por todos voces". Assim, sem til, sem cedilhado no "c", sem acento circunflexo. Porém a horacao dela teve muito mais charme porque eu sei do seu verdadeiro sentido. Eu sei que a horacao não será apenas escrita, que ela será sentida, feita e desejada. Sei do amor que existe por trás de cada palavra na minha tela que aparece. Sei que tudo isso é fruto da inteligência dela e da vontade de estar perto das filhas, mesmo com suas seis casadas e já com seus próprios filhos. Apesar dos seus esquecimentos, da sua eventual tristeza ocultada, do esforço para andar, das breves, porém presentes, reclamações pontuais. Minha avó conta suas histórias como se tivessem sido vividas ontem. História de vida bem triste, porém repleta de superação que é o pilar de uma família grande, se construindo. Muito foi feito porque ela se superou. E hoje está aí, no WhattsApp, enviando mensagens, preocupada com as filhas que voltam tarde pra casa e com os netos. E ainda sorrio com suas mensagens: desorganizadas, surpreendentes, fora de ordem, desconexas, que quase ditam o esforço do aprendizado. Mas uma hora, a mensagem vai, e a gente lê, todo bobo, com carinho. Desse tipo de avó que dá mesmo vontade de abraçar pra sempre. Uma mensagem pra cada filha, e sempre uma oração pra todo mundo, ou horacao, que é a melhor dos mundos.
Outra forma boba de sentir ternura é com o segurança da porta de entrada dos fundos da minha faculdade. Normalmente, ele estaria ali hoje, mas deve ter sido promovido a guarda da frente, pois mudou de posição. Fui indo como sempre pra faculdade, mochila nas costas, com um Sol bonito no céu. Passando pelo portão, lá estava ele de guarda, como sempre, e eu, já acostumada. Então ele me acenou e disse: "boa aula!" e sorriu. Foi um gesto simples, porém me transmitiu uma tranquilidade e retidão, e ternura, que poucos bons dias são capazes de oferecer. E eu vi como eu sou mesmo boba, quando no ano passado, quando eu disse isso à minha terapeuta, ela riu, e eu, rindo, quase chorei, foi por pouco. Porque o amor é fácil de ser transmitido, só não é fácil estar aberto para isso, a ponto de percebê-lo. Quando você o percebe, você o multiplica, porque ele é contagioso. Mas não se pode cultivá-lo em laboratório, precisa-se vivê-lo se quiser usufruir de seus benefícios, e ensiná-lo.
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