segunda-feira, 30 de abril de 2018

Não que fosse necessário, mas meu pedido único é que imagine, caro leitor, ao menos por hora. Então lá vamos nós. Para que vivesse bem, ele não era capaz de desimportar. Tudo em sua plenitude, em sua necessidade, lhe consumiam as forças. O ar que respirava. A fita que sobrava. A mensagem não lida ou lida. A hora do almoço. A necessidade de conseguir, a falta crônica. Tudo o era preenchível, deixando-o um pouco de tudo.
Contudo, de tanto recolher respostas, perdera-se em suas próprias ponderações. Não sabia mais onde estava, quem se tornara. Sua juventude estava ameaçada. Sentia-se como um quadro surrealista.
Foi aí então que soube. Caro leitor, compreenda, o intuito aqui não é abordar o modo como ele soube, se me permite abafar sua curiosidade, mas não é isso, é que tenho outras tarefas para fazer. Porém, vou abrir uma exceção para evitar dismorfias no corpo do texto. Após ultrapassar uma porta, uma porta em um beco por onde o personagem nunca havia entrado. Então, aí, ele pôde ver seu futuro, de algum modo. ele pode sentir-se ali. E ele sentiu algo que seus hábitos não o proporcionavam, nem sua coleção de certezas: Calma.
E, sabendo que ficaria tudo bem, ele fechou a porta. Mas não a transpassara! Voltou pelo mesmo beco por onde entrara, e caminhou. Ao olhar para trás, o beco não mais ali estava. Fora um sonho?

Chegou em casa, tirou os sapatos. pensou em coloca-los na mesma prateleira onde sempre colocava. Mas os deixou do lado de fora, perto da porta, jogados no chão. Pensou em esquentar a comida. Um impulso o fez postergar para dali a pouco. Andou. Jogou-se no sofá. Fechou os olhos por um instante e sorriu, sem querer, pois era como se uma brisa leve tocasse seu rosto, numa tarde de calor, afagando seus cabelos gentilmente.
Ele sabia! Estava tudo certo. Sem pressa, aos poucos, tudo tem sua hora, pensou, e, mais do que isso, sentiu. Ainda podia sentir a sensação de estar do outro lado da porta. O seu futuro estava ali, o esperando, para recebe-lo. E sentiu-se tão grato que, por tanta gratidão, decidiu dar ao presente sua calma, pois com sua calma, ganharia também seu coração, colocando-o em tudo que fizesse, não para depois, mas a partir de agora, pois o futuro começa daqui a pouco.

E, assim, fechou os olhos, seguro de que, por mais que aquela sensação passasse, ele não esqueceria, e jurou depositar a sua fé no dia de hoje. Pois, naquele momento, teve a certeza de ser uma boa pessoa. Não precisou mais recolher emoções, histórias, sentimentos. Ele era ele. Ele não era a competição que ele sentia ao redor. Ele não era o número de vagas. Ele não era a pressão que ele mesmo se impunha. Ele era o presente dele mesmo e dos outros, no presente.

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