terça-feira, 30 de janeiro de 2018

Espero que o cansaço não se torne ausência.
Que o esforço não seja sinônimo de cansaço.
Que não seja necessário medir esforços.

Espero que a luta seja quente
Que a batalha seja conjunta
De modo que a harmonia seja sentida gradualmente.

Que harmonia venha de fora pra dentro,
De dentro pra fora,
Multidirecional,
Sem que se pare pra pensar sobre isso.

Que seja sutil como as estações do ano
Que brilhe ao final de cada entardecer
Assim como "The golden Hour"
Que se viva a luz mais bela.

Que não seja necessário explicar
Mas que seja, somente - por inteiro
E que, sendo, também estejamos
De corpo e alma, como sem receios.

sexta-feira, 19 de janeiro de 2018

Fonte do amor

É difícil amar. O amor não é uma coisa boba, não é fácil praticar.
Mais difícil é porque temos um tipo de reservatório de amor. É possível que tenhamos muito para dar, mas é porque um dia muito recebemos, e ainda estamos a receber. Se você não tem amor pra dar, ou se você não sabe muito bem o que é isso, é provável que lhe falte amor também.
Amor não é perfeição, não é luxo, não é. Amor é o modo como levamos a vida, como lidamos com os problemas, como superamos os diversos obstáculos. Amar é sentir dor com um motivo para isso, e sofrer de um modo direcionado, assim, nem tudo lhe causará tanta dor, pois você está um pouco anestesiado pelas maiores dores que o amor carrega consigo. 
Amor é abrir mão de sonhos, de conquistas, para cuidar dos sonhos de outra pessoa. Amar é perder a direção, redirecionar o foco, ou ao menos postergar seus próprios anseios, para ansiar o anseio do amado. 
Ademais, o amor é paciente. Isso porque não há escuta apressada, não há uma boa resposta sem escuta, e não há uma boa resposta sem uma reflexão adequada. O amor é exigente, é preciso doação de ambas as partes para que ele seja maior e aja mais profundamente nos corações.
O amor tem muitas habilidades. Ele atua nos gestos mais sutis, nos olhares, na calma, nas respostas, no silêncio, no tempo, na perseverança, no chamado, no bater nas costas, no afago, na ajuda, na espera. O amor espera bastante, é paciente, espera sem que peçam para esperar, ele fica ali, observando, esperando, que até te surpreende. O amor faz coisas importantes mesmo sem que você entenda a importância do que ele faz. 
Para amar, é preciso estar disponível. Para ser amado, também. O engraçado é que o amor não exclui outros sentimentos: raiva. Desapontamento, frustração, que aparentemente são antagônicos. Mas não são. Antagônico ao amor é o rancor, que apesar de rimarem entre si, não têm nada a ver um com o outro. 
A ausência do amor deixa tudo muito frouxo. Todas as vezes que digo amor, aqui, não é de namorados, noivos, casados, mas o amor humano natural, intrínseco da nossa espécie. O amor dos pais pelos filhos. Dos irmãos, dos netos pelos avós. Mas, muitas vezes, esse amor fica escasso. Nossa fonte principal nem sempre está tão farta. E quanto menos recebemos amor, vamos doando menos, e recebendo menos, e dando menos, e quanto menos se dá, menos se recebe. Olhe: quando se sorri sinceramente, quase sempre sorriem de volta. Quando se chega abraçando sinceramente, é bom que abracem de volta. Quando somos bem acolhidos de manhã, nosso bom dia é mais animado. Pessoas recíprocas dão sentido ao nosso dia a dia... Não importa se é só por um segundo! Aquele segundo de cumprimentar ou de aperto de mãos. Alguns segundos alimentam  um dia inteiro (Mesmo que o resto da conversa seja uma perda de tempo ou chata). Que possamos aprender a conversar mais, a nos apoiar, pois o amor sozinho não se sustenta, e se todas as fontes secarem, onde buscaremos sentido no nosso dia a dia?

sexta-feira, 12 de janeiro de 2018

Boxe no trem da vida

Viagem de trem. Quantas horas são necessárias para se chamar viagem? A minha dura em torno de 1 hora diária na ida e na volta. Neste intervalo de tempo são várias situações dignas de observação.

Trens são locais cosmopolitas, principalmente em tempos de crise. Hoje, por exemplo, dois artistas dançaram no curto espaço do corredor de trem fazendo altas piruetas e malabarismos, passando em seguida com seus chapéus entre os passageiros, que mostraram interesse em ajudar.

Vendedores e produtos também é o que não faltam. Agora, eles expandiram suas vendas para além dos tradicionais doces, vemos também pano de pia, esponjas, barbeadores elétricos a 7, eu disse 7 reais e testando na hora!

Há outras coisas: o moço que todo dia as 6:15 vende seu jornal, Extra, passa entre os passageiros estampando a primeira página; o moço com suas 5 garrafas térmicas bem cedo, anunciando café, achocolatados, para os que saem de casa apressados e em jejum; a moça com a "baaaala de coco", que grita um grito agudo, pra atingir o ouvido de todos os que queiram ou não comprar, só 1 real.

Há promoções surreais, vendem até a caixa fechada, atingiram um patamar de profissionalismo que, de antemão, mostram a data de validade, para o ano que vem, valorizam a marca, comparam o preço com o do Guanabara, que é pra não perder dinheiro hein, gente!

Há ainda os sem noção. Vendedores passam a jato anunciando de um jeito enrolado, com um só produto na mão, algo que eu ainda não descobri o que é, nem ouvi o preço.

Tem vendedor que sabe vender, e tem vendedor que sabe aparecer. Tem vendedor que você nem enxerga porque tá dormindo nessa hora, se conseguir um lugar pra sentar.

Tem de tudo, enfim. Cantores, palhaços, caridade, gente que te olha estranho, gente que fica te olhando o tempo inteiro e você finge que não tá percebendo, gente falando da própria vida pra desconhecidos (melhor tipo), gente que se encontra, que se despede, que grita ao telefone.

Gente que se esbarra, se aperta, pressiona os outros pra conseguir sair no ponto certo, segura a porta, se segura. Muita gente põe fone no ouvido. N'outro dia tinha gente cantando, e o vagão inteiro começou a cantar junto músicas religiosas.

Tem gente que disputa lugar assim que as portas abrem mesmo com o trem todo vazio, e não importa se você é ou não mais fraco, é perigoso, é a vida real. Isso tudo tão cedo.

É tão cedo e todo mundo tá lutando pra sobreviver. Eu estava fazendo boxe, decidi sair porque não estava gostando muito. Mas, a partir de agora, vou colocar as luvas assim que acordar, porque afinal, minha gente, a vida é uma luta.

terça-feira, 9 de janeiro de 2018

Atualmente, (e, sim, começo este texto de modo clichê, com um advérbio temporal, pois o que eu sinto sobrepõe a importância de uma boa estética textual), sinto que nada que eu faço é suficiente. Já havia escrito tal frase, porém o que eu sinto continua com esta necessidade de ser entendido e decifrado. 

Sinto que nada o que faço é suficiente, para mim e para os outros. Sinto que não dou conta. Sinto que o tempo corre muito rápido, e não consigo acompanhá-lo. Sinto uma necessidade de viver, de fazer acontecer, que não é necessário ser sentido, pois vejo isso nos outros. Procuro motivos par eu estar assim, saio do senso comum, me isolo ou me enturmo. Enturmar-me, apesar de deixar-me por vezes cansada, me ajuda a gostar de aproveitar o tempo. Isolar-me me permite maior concentração nos deveres, estudos, mas enjoo da minha própria companhia, sinto que sou pouco criativa, não teço muitos pensamentos comigo mesma, parece que minha mente trabalha sozinha, pensa muito, de modo que meus estudos demoram para andar. 

Mas não é raro não saber o que falta, ou o que excede (acho que quase nada). Só que sinto falta de mim. Dizem que eu me cobro demais, e que isso faz mal. Porém não sei como faço isso, e minha cobrança é bastante improdutiva por sinal. Talvez eu me cobre tanto por não atender ao que pareço ser. Talvez eu me cobre para suprir meu ego inflado, que eu não consigo desinflar, ou ao menos é isso que sinto. Não sei bem, gostaria que as palavras se escrevessem para mim. 

Quero olhar para o futuro. Quero agarrar cada oportunidade como se minha vida dependesse daquilo. Quero ser a minha melhor versão. Mas não alcanço. Talvez eu viva demais no passado, ou no campo das possibilidades. Talvez, se eu buscasse mais o presente, não ligasse tanto para pormenores... ahh, mas como? Se por vezes me ausento de mim mesma? 

Sim, me cobro demais. Gostaria de me permitir, sentir meus sentimentos, compreendendo mais o lado dos outros. Não me isolar emocionalmente. Apenas isso. Sorrir a felicidade do meu próximo, experimentar o que ele julga bom, para viver o que estou presenciando. E entender que as coisas são realmente difíceis, e se eu não conseguir alguma coisa, não é porque eu não tentei, é porque os outros foram melhores. Assumir isso. Assumir a responsabilidade das minhas decisões. Assumir quando eu não conseguir acordar cedo para estudar sem colocar a culpa em outros fatores. Assumir que dormir é bom e foi isso que eu fiz, e faz parte da vida, e que bom que eu pude dormir e acordar bem.
São as menores coisas que importam. Não são necessariamente as vitórias. É sobretudo sobre as suas intenções.

Ah, e uma frase que foi dita num filme o qual assisti anteontem, não tem a ver com o texto, mas a mensagem é ótima!


"Quando tiver que escolher entre estar certo e ser gentil, escolha ser gentil."
-Filme "EXTRAORDINÁRIO"

quinta-feira, 4 de janeiro de 2018

Ser blindado hermeticamente contra decepções
Barrar a entrada de toda forma de sentimento
Não se enganar pois todas as promessas são vãs
Saber de antemão o desfecho das conversas
Pra mim, sim é não
Chegue mais longe, me toque sem tato
Meu coração tá armado e trancado
E se queres saber onde está a chave
Nem mesmo lembro a forma do cadeado.

terça-feira, 2 de janeiro de 2018

Amor via telefônica.

Hoje passei o dia inteiro sozinha, ou melhor, eu e meus dois cachorros - um vira-lata de 10 anos que é meio pamonha e uma cadela de 1 ano estilo Golden (just-a-half), que é mil vezes mais inteligente que o vovô. Ela é minha companheirinha (de quintal!).

Contudo, não foi um dia ruim, mas bem atarefado, me impus tarefas e quase terminei todas, deu um trabalhão. No final da tarde, comecei a estudar. Daí o telefone toca - primeira vez à tarde, mas a 5ª vez no dia (das quais, 2 foram minha avó perguntando se eu tinha dormido bem e se eu tinha almoçado, 1 foi trote, 1 foi propaganda de um "produto totalmente natural para dormir"!!!!!!). Resumindo, foram várias pequenas corridas durante o dia para atender antes de o telefone parar de tocar, para basicamente nada urgente ou baboseira.

Daí, na 5ª vez, é a minha tia. Sim, minha tia, que eu amo muito, falando várias coisas, dentre elas, nada. Perguntou basicamente como eu estava, se eu não estava em apuros, se eu queria ajuda, mas de um jeito que eu me questionei por um momento se eu tinha 5 anos. Eu estava mesmo sem paciência pra isso! 

Nesses momentos, gostaria de ter uma balança em minha voz pra assumir o tom correto, nem muito rude, nem muito amigável, nem muito agudo, nem muito grave, pra deixar claro que aquela conversa não estava sendo apropriada. Mas essa balança não existe, e o tom amigável e agudo persiste.

Daí, então, como manda o protocolo, ela disse, ao final da ligação, seu habitual "eu te amo!". Pensei por um momento, hesitei na minha resposta. Amor é dor? Se sim, não é necessário eu replicar a frase, afinal, se ela me ama, sou amada, independentemente se o amor é mútuo. Ok, soa egoísta, mas a questão nem é essa! Minha tia diz "eu te amo" pra qualquer um. E isso enche o saco no momento em que, quando você precisa de um favor, a resposta mais comum é "não", com o amor de acessório. Amar não é isso. Não funciona assim. Não se ama ao final de uma ligação. Amar é uma palavra importante, não se pode pronunciá-la indiscriminadamente, pra ela não se tornar banal!

Mas, por um lapso de segundo, respondi, como um eco: "também te amo!", e senti como um alívio transmitido via telefônica. E pudemos desligar a chamada. Fim do papo, fim da enrolação, segue a vida. Logo em seguida, pude perceber por quê, pode entender a complexidade que existe por trás dessa frase batida pela minha tia, que ela repete tão enfaticamente em seus telefonemas aleatórios. Não se interessa para quem ela diga que ama, talvez ela nem dê o valor que o seu amor verdadeiramente tem, e que é gigante. O que vale pra ela é quanto amor ela consegue receber de cada "Eu te amo" que ela pronuncia, e por isso ela diz isso em cada ligação, porque é o amor dos outros que ela procura, quando abre mão do seu.

E eu penso que o que ela realmente procura é um "eu te amo" sem que ela precise falar isso antes. Talvez o marido dela não diga que a ama, e ela procure isso nos outros. E por ela procurar tanto, isso venha demasiadamente escasso, porque às vezes, o que muito se procura, pouco se tem. E nisso, ela insiste em pronunciar o "Eu te amo".

Na verdade, o que eu acho é que se cansou de esperar a iniciativa dos outros.