terça-feira, 2 de janeiro de 2018

Amor via telefônica.

Hoje passei o dia inteiro sozinha, ou melhor, eu e meus dois cachorros - um vira-lata de 10 anos que é meio pamonha e uma cadela de 1 ano estilo Golden (just-a-half), que é mil vezes mais inteligente que o vovô. Ela é minha companheirinha (de quintal!).

Contudo, não foi um dia ruim, mas bem atarefado, me impus tarefas e quase terminei todas, deu um trabalhão. No final da tarde, comecei a estudar. Daí o telefone toca - primeira vez à tarde, mas a 5ª vez no dia (das quais, 2 foram minha avó perguntando se eu tinha dormido bem e se eu tinha almoçado, 1 foi trote, 1 foi propaganda de um "produto totalmente natural para dormir"!!!!!!). Resumindo, foram várias pequenas corridas durante o dia para atender antes de o telefone parar de tocar, para basicamente nada urgente ou baboseira.

Daí, na 5ª vez, é a minha tia. Sim, minha tia, que eu amo muito, falando várias coisas, dentre elas, nada. Perguntou basicamente como eu estava, se eu não estava em apuros, se eu queria ajuda, mas de um jeito que eu me questionei por um momento se eu tinha 5 anos. Eu estava mesmo sem paciência pra isso! 

Nesses momentos, gostaria de ter uma balança em minha voz pra assumir o tom correto, nem muito rude, nem muito amigável, nem muito agudo, nem muito grave, pra deixar claro que aquela conversa não estava sendo apropriada. Mas essa balança não existe, e o tom amigável e agudo persiste.

Daí, então, como manda o protocolo, ela disse, ao final da ligação, seu habitual "eu te amo!". Pensei por um momento, hesitei na minha resposta. Amor é dor? Se sim, não é necessário eu replicar a frase, afinal, se ela me ama, sou amada, independentemente se o amor é mútuo. Ok, soa egoísta, mas a questão nem é essa! Minha tia diz "eu te amo" pra qualquer um. E isso enche o saco no momento em que, quando você precisa de um favor, a resposta mais comum é "não", com o amor de acessório. Amar não é isso. Não funciona assim. Não se ama ao final de uma ligação. Amar é uma palavra importante, não se pode pronunciá-la indiscriminadamente, pra ela não se tornar banal!

Mas, por um lapso de segundo, respondi, como um eco: "também te amo!", e senti como um alívio transmitido via telefônica. E pudemos desligar a chamada. Fim do papo, fim da enrolação, segue a vida. Logo em seguida, pude perceber por quê, pode entender a complexidade que existe por trás dessa frase batida pela minha tia, que ela repete tão enfaticamente em seus telefonemas aleatórios. Não se interessa para quem ela diga que ama, talvez ela nem dê o valor que o seu amor verdadeiramente tem, e que é gigante. O que vale pra ela é quanto amor ela consegue receber de cada "Eu te amo" que ela pronuncia, e por isso ela diz isso em cada ligação, porque é o amor dos outros que ela procura, quando abre mão do seu.

E eu penso que o que ela realmente procura é um "eu te amo" sem que ela precise falar isso antes. Talvez o marido dela não diga que a ama, e ela procure isso nos outros. E por ela procurar tanto, isso venha demasiadamente escasso, porque às vezes, o que muito se procura, pouco se tem. E nisso, ela insiste em pronunciar o "Eu te amo".

Na verdade, o que eu acho é que se cansou de esperar a iniciativa dos outros.

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