Meu par parece não ter nome
Parece figura disforme
É muito reservada
Por vezes tímida, ou mesmo antissocial.
Se sente completa quando isolada
É quieta, calada
Tem mãos dadas com a inquietude,
Com o desconforto, e indiferença
Mas o meu par me cativa
E talvez essa seja a briga
Que esse povo não entende.
Esse meu par nunca me deixa
E quando todo mundo vai embora
Lá está ela, minha cereja.
Há mistérios que apenas ela
Consegue me fazer desvendar
Pois quando meus olhos lacrimejam
É causa de algo errado estar
Já apertou-se o nó mais que doído
E nesse aperto sonso e descabido
Meu par se manifesta, livre, solta,
E soluça, treme, cai e revigora
Meu par é o antes da aurora
A escuridão que precede e apavora
Mas esse medo não concebido
É sinal que algo vem sendo um pouco sofrido
E em algum canto, ela canta sorridente
Metendo o choro na cara da gente.
Minha companheira, não se apavore
Seja um pouco menos egoísta
Deixe que eu a controle bem mais de perto
(Juro que quase acabam as rimas)
Mas eu te clamo, tristeza, me chame
Para mais perto, conversa comigo
E em vez de berrar quando bem entende
Solte aos poucos pequenos sorrisos
Ou solte gritos curtos que eu digo:
Há quem os ouça por ter bons ouvidos.
Mas não adianta, tristeza, sua burra!
Seria mais fácil se você entendesse:
Psicoterapia, farmacologia, bioquímica,
Servem a ambos nossos interesses!
Sinta-se abraçada gentilmente
Saiba que a dor que a gente sente
É igual a sua ao ser rejeitada
Portanto desfile na passarela da amargura
Caia sobre o orgulho ferido
Passeie e estabaque-se na calçada
Para que eu lhe ofereça um ombro amigo
E todo esse orgulho ferido
Se transforme em satisfação e alegria
E você, mesmo um pouco reduzida,
Vire nuvem carregada que chove
E passe a florir de sentido a minha vida.
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