domingo, 20 de novembro de 2016

Escritores em pauta.

Tenho um livro aqui em casa
Que fala com esmero sobre as maiores dúvidas dessa vida
E a dúvida por trás das dúvidas
E diz sobre a decepção quando se conhece
A verdade que por sobre nossas cabeças plainava.

Venho procurando por ele por um bom tempo. Já quis postar nas redes sociais suas falas. Já quis relê-lo em alguns momentos da vida. Já quis relembrar as frases de um autor e tanto - Carlos Drummond de Andrade - porém, sem acha-lo, não li, não relembrei.
Esforço-me a todo o custo para que as frases polidas e de contornos precisos não se percam como o livro se perdeu. Já não lembro seu nome. Ele anda por aqui, quem sabe perto de mim, quem sabe algum sortudo insensível levou pra casa e finge esquecimento.

Neste livro escritos diziam assim: "Como seu doce, menina! Come que não há mais metafísica neste mundo que chocolates! Como, pequena!"

Também havia o dono da Tabacaria.

Também havia todo o gráfico do livro que era muito singular e dava mais forma ainda às palavras.

Certos autores são verdadeiros médicos de palavras. Alguns necessariamente nascem pra isso e talvez necessariamente nasçam para várias outras coisas também, pois somos feitos de várias pessoas ao longo de vários "eus". Escrever obras de forma tão prodigiosa requer do seu dono um senso de autonomia e controle do abstrato que ele deve domar sua criatividade de modo a moldar o corpo de um texto que ainda não tem forma, que pode seguir todos os caminhos possíveis e inimagináveis, mas com os contornos que seu inventor determina. Se o contorno for longe demais, a obra fica desmanchada, não cria forma, perde o ritmo. Se o contorno for muito breve, fica raso, talvez obscuro, incompleto, como uma pessoa que não decidiu o quer ser. Autores renomados e reconhecidos pelo público são artistas e devem ser pessoas que detêm o controle de suas mentes e suas vidas, a menos que o descontrole de suas vidas seja o roteiro para novas obras primas. Veja a história de J. K. Rowling. Ah, que imaginação, que controle do enredo, que magia! Adoraria ter fôlego para não perder as pontas que fazem a renda de uma história longa e complexa. Mas eu, com as poucas pontas que seguro da minha faculdade, por vezes deixo-as escapar, imagine!

Crônicas, por sua vez, são mais fáceis de serem manejadas, são menos complexas, embora por vez tão intrigantes! Também é prodigioso ser capaz de escrever histórias breves e em pouco tempo conseguir fazer o leitor tragar  a trama e fazê-la sensacional, comovente e cômica.

Para mim, fazer o leitor chorar é estupendo, mas fazê-los gargalhar é ainda mais desafiador! São tantos sensos de humor que é impossível agradar a todos, porém não consigo imaginar como alguém consegue prender a atenção do outro a ponto de tornar uma situação engraçada. Poucos foram os livros que li e sorri, mas esses valem a pena. Já o choro é fruto de uma construção gradativa, um laço que vc constrói entre leitor e personagens. É uma questão de técnica e prática, experiência, persistência.

Por fim, de fato, autores são doutores artistas. Essa mescla de profissão que examina o texto ao mesmo tempo que poli e dá forma.

Como um doutor, mas sendo autor, pode ir, está tudo bem, mas agora o personagem é invertido: você aperta minha mão e eu que vou saindo. Foi um prazer, conto contigo! E chame para que eu possa apresentar mais tarde meu próximo livro.

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