quinta-feira, 6 de dezembro de 2018

Parem de falar que a vida é muito curta!
Curta é a vida que quem não conseguiu sair do útero
Que teve sua formação embrionária interrompida
De quem atravessava a rua e acordou em um leito
De quem foi interrompido bruscamente

A ambição do ser humano é infinita
Por isso os dias não são suficientes
As horas passam muito depressa
Mas o tempo é dono de si
E ele é quem dita o ritmo da melodia

A atualidade força as pessoas
A irem além das suas possibilidades
A pegar trem e viajar distâncias
Entrecortadas pela saudade
E pelas diversas lembranças

"Aquela estação está marcada
Pelo primeiro beijo, meu e dele!
Naquela ali, fui assaltada!
Nesta eu conversei com um estrangeiro!
Mas em todo o percurso, todos os dias
Ficava um misto de prazer e agonia"

O trem vai para onde? Para a saudade
Saúdam o pobre, o louco, o faminto
O rico, o cansado, o esbelto
Para todas as direções o trem vai
Só não sei em que estação fico

Não sei o preço da passagem
Meu medo é meu melhor amigo
Não olhe para os lados, feche os olhos
Não conheço você, indivíduo!

Ambição é estar bem consigo
Em todas as estações, em todas as dúvidas
Apesar disso, continuar embarcado
É com você, seu maior compromisso.

Se não aceitar, seguindo o caminho
Como vou ser feliz neste estilo?
Felicidade está na constância
No brilho do Sol, em cada sorriso

Felicidade está nos intervalos
Nas refeições, nos fins de semana
No inesperado, na saída do plantão
Em horário de verão com o Sol em rima

Todas as estações merecem destaque
Todos os intervalos são muito bem vindos
As lembranças preenchem a alma 
A gana e resiliência, o espírito







terça-feira, 13 de novembro de 2018


Uma escada que sobe para baixo
Uma ladeira que desce para cima
Desce-se a escada ao pensar subi-la
Sobe a ladeira ao pensar descê-la

E nesse vai e vem incoordenado
Penso que... ao certo? Só o incerto serve!
Querer saber é garantir a desgraça
De correr atrás do inatingível
Pois a inteligência se dá ao acaso

Para quê correr? O saber voa!
São planos diferentes de uma planilha
e mesmo que se alcance o saber
Ele estará acima!







quinta-feira, 16 de agosto de 2018

            Às vezes, no silêncio da noite, eu fico pensando no dia que passou, e meus pensamentos voam tão longe, que reluto em ir para a cama. Ai, que perda de tempo, dormir, quando se tem tanto a pensar, a descobrir, a investigar! Existem tantas verdades dentro de nós mesmos que, na correria do dia a dia, nos perdemos, e são nessas horas que, por vezes, esbarro em mim, e me encontro. Apesar disso, quando me deito, enfio meu crânio na superfície macia do travesseiro, me questiono, oras, que bobagem não ter vindo logo deitar! Tão bom é ter um sono tranquilo à noite, que não posso dispensá-lo, assim, à toa.

...Pensamentos de uma noite já deitada.

quinta-feira, 28 de junho de 2018

Eu não quero ser a melhor.
Não sei se posso culpar a Medicina, mas mesmo que eu pudesse, eu sei que parte da culpa seria minha, caso contrário, eu não teria a admiração que tenho por alguns poucos, porém existentes, futuros colegas de profissão. 
Eu só quero ter o olhar clínico, não um olhar frio, distante, mas um olhar claro, focado e humano.
A humanidade é uma característica que os dicionários não podem definir, é metafísica, é abstrato. E se você não tem, não consegue expressar, não consegue tocar seu paciente com sua presença, mesmo tendo todo o Harrison na cuca. 
Como disse, não quero ser a melhor, mas quero ser ao menos a melhor parte de mim, pois não sei se alcanço o melhor que posso ser, desconheço essa linha imaginária. 
Não quero ser a melhor, pois talvez o melhor não tenha humildade suficiente, deixando de ser. O melhor é o melhor? Digo, o melhor é o melhor como? Qual o quesito? 
O melhor, eu penso, é aquele que enxerga a pessoa que está num corpo, e não examina o corpo, mas o indivíduo. Aquele que é uma pessoa antes de ser um médico, e ignora suas dores só quando necessário. É aquele que sabe regar seu jardim, apesar das ervas daninhas, e sabe lidar com isso. É aquele que brinca, que se diverte, que está no seu tempo, e não se sente angustiado por isso. É aquele cujo amor está em tudo que faz, mesmo na pressa, na dúvida, na frustração: apressa-se amando, duvida amando, frustra-se amando, mesmo que nem se dê conta disso. 
E, por não ser o melhor, pode dar a atenção necessária ao seu paciente, escutá-lo, pensar no diagnóstico, examinar, lembrar sobre o que aprendera na faculdade, sem muito peso sobre seus ombros. E, não pesando, fica mais fácil, mais dócil, mais humano, mais certo, mais médico, em todas as ocasiões da sua vida, em uma festa, em um bar. Acho que ser médico é algo também sobre saber viver, porque muito do aprendizado está no dia a dia, e saber lidar com muitos problemas sem perder a cabeça, afinal, precisamos dela pra pensar nas melhores condutas.  

quinta-feira, 14 de junho de 2018

Ginecologia e Geriatria

Os dias no internato são diferentes do ciclo clínico, e agora, chegando ao fim do 9º período (que é o primeiro período do internato) isso fica, para mim, mais claro.

Pretendo aqui abordar um pouco do que foi esse último rodízio que já finda, porém antes, pontuo tópicos que considero importantes.

Primeiramente, é preciso entender que o internato exige disciplina. Em outras faculdades, que têm em média quatro anos de duração, você já estaria formada. Isso demonstra que você já tem muito conhecimento e metodologia de estudo adquiridos, embora possa pensar o contrário (eu!).  Logo, arregace as mangas e que os trabalhos comecem!

Aproveite cada módulo, cada especialidade e estude simultaneamente para a residência. Isso facilita caso haja dúvidas, pois você pode tirá-las diretamente com o professor, além de facilitar o aprendizado, pois ao mesmo tempo que estuda a teoria, você revê a matéria, só que na prática, e pode discutí-la com os colegas. É uma maneira inteligente de fixar e compreender, de fato, o que está sendo lido.

Então, como disse inicialmente, estou rodando atualmente nas especialidades: Ginecologia, Geriatria e Medicina Legal, tendo Ginecologia a maior carga horária. 

Inicialmente, admito que eu tinha um certo preconceito com relação à Ginecologia, pois não pensei que possuísse muita afinidade com ela. Apesar disso, quando se é interno, é importante manter a mente aberta a possibilidades, pois o estranhamento pode ser fruto da falta de contato com a área. 
Então, no decorrer das semanas, após inúmeros atendimentos, anamneses e exames físicos, entre colher preventivo, perguntar a data de menarca e outros detalhes não menos importantes, vamos entendendo o porquê de cada pergunta, por mais trivial que ela pareça ser. Tem cheiro? Qual a cor? Dói? E só a paciente tem as respostas, e nós temos que saber ouvir e, mais do que isso, saber o que perguntar, e em quê prestar atenção para a história ter sentido. Todo paciente tem uma história, você só a extrai e põe em uma forma pra enxergar o diagnóstico e tratar. 
Assim, faltando poucas semanas para o final deste rodízio, sinto que estou bem mais inteirada do universus vaginalis. A Ginecologia é uma especialidade sem igual, pois possibilita um universo de procedimentos e condutas, não se trata apenas sobre "tratar corrimento" como já ouvi de colegas. Os fatores de risco são bem explorados principalmente para cânceres, muitas vezes a história familiar é bem valorizada, solicitando-se exames e há um acompanhamento periódico próximo, que permite uma terapêutica adequada de caso a caso. 
Hoje mesmo, tive prática de Gineco, e as condutas já estão claras para a maioria dos estudantes, solicitamos colposcopia para mulheres com até 64 anos, preenchemos a solicitação dos exames, mamografia, USGTV, avaliamos o BIHADS e a radiografia. É interessante.


Também estou tendo contato com a Geriatria, pela primeira vez de modo específico. Meus professores são geriatras, com outras especializações: um é clínico (requisito para a residência em Geriatria), outros dois são Neurologistas.

Antes de tudo, é sempre bom lembrar que a Geriatria abrange pessoas a partir de seus jovens 35 anos. É claro que a maior parte dos pacientes têm idades mais avançadas, porém, por motivo de buscar uma boa qualidade de vida na 3ª idade, o acompanhamento pode começar na prevenção das enfermidades que um corpo jovem mal assistido pode adquirir com o tempo, sendo um processo natural. Assim, a Geriatria atua na prevenção primária, secundária e terciária da saúde de seus pacientes.

Minhas aulas são as segundas-feiras à tarde no ambulatório da faculdade e às quartas-feiras à tarde, no hospital Caxias D'Or, no auditório. Tivemos a oportunidade de, na segunda semana de aula, fazermos anamnese em um paciente a cada dois alunos (fomos divididos em duplas). Com essa experiência, vimos que os 40 minutos destinados à anamnese passaram voando, a causa? Eu não sei o que mais pesou, se foi a doença de alzheimer, como uma síndrome demencial presente, ou as muitas histórias que precisam ser rebobinadas aos poucos, e que, para não entrelaçarem, são contadas com cuidado. Foi difícil, de fato, saber a causa da internação do paciente, e eu e minha dupla nos enrolamos um pouco nesta tarefa, pois às vezes não tínhamos as respostas que buscávamos.
Após meia hora, a cuidadora do paciente chegou e pode elucidar nossas dúvidas, mas o protagonista continuou sendo o idoso. Ele estava obnubilado, porém sua identidade do eu estava preservada. Relatou, com perfeição, suas façanhas antigas, ter sido locutor radialista, suas viagens e a universidade em Pernambuco que cursara, de Direito. Foi amigo de grandes figuras. Tinha uma linguagem rebuscada, e era visível que se tratava de uma pessoa culta. É uma enorme gratidão estar perto de pessoas assim, e eu me senti honrada em poder cuidar dele, ao mesmo tempo que senti um pouco de tristeza, pois muito conhecimento estava ali, uma capacidade de eloquência e percepção fantásticas, mas suas memórias sobrepunham o presente, de modo que sua independência ficara comprometida, e a capacidade de ir e vir, prejudicadas. Queria pegar em sua mão e pedir desculpas, mas não sei pelo o quê. Carinho e tristeza misturados, ainda que só o conhecesse há poucos minutos. 

Além desse dia, tivemos outras aulas e fizemos atendimentos em pacientes ambulatoriais. É bem recorrente casos de síndrome Parkinsoniana, e achei que a doença de Alzheimer esteve menos presente nos pacientes. A Geriatria é complexa pois dificilmente o paciente terá apenas uma queixa, e é preciso cuidar cada parte de modo que o todo fique saudável. Saber dosar, alterar e avaliar a retirada e prescrição de cada medicação anti-hipertensiva é crucial. Em um dos atendimentos diagnosticamos uma HAS mascarada, com a realização de MRPA e pudemos ajustar a dose do medicamento, tendo sido a MRPA de fundamental importância pois, caso não fosse diagnosticada, futuramente haveria lesão em órgãos-alvo, prejudicando o quadro clínico e prognóstico do paciente. 

Desse modo, é possível observar que a Geriatria é complexa e exige estudo e atualização constantes, além de uma humanidade extraordinária, para os que fazem por amor. Não é normal um idoso não enxergar, não ouvir bem, ter problemas gástricos, pois há tratamentos disponíveis. Pacientes socialmente distantes com Parkinson não tratado, através da medicação em dose correta, com ajustes no decorrer do tempo, voltaram às atividades diárias e conquistaram novamente sua independência, até correndo pelos corredores do ambulatório enquanto eram avaliados pelo médico. Outro paciente, em outro dia, fez questão de agradecer a cada aluno presente na sala de seu atendimento (éramos em torno de 7 pessoas) após seu atendimento, surpreendendo a todos, e sua simpatia era simplesmente contagiante, com sua boina de português - que ele julgava feia - , sobre a cadeira de rodas. 

Vou finalizando por aqui, pois preciso ainda estudar já que a prova de Geriatria se aproxima, mas vocês podem ter certeza de que, independentemente da especialidade, todo atendimento é uma lição, um aprendizado, mas diante de pessoas que têm tanto para contar, essa lição vem em doses dobradas!!! =D 



Abraços!!!



.

sexta-feira, 18 de maio de 2018

Quem nunca sentiu nostalgia? Aquela saudade de um tempo passado, uma vontade de voltar no tempo.
Sinto saudades, ou nostalgia mesmo. Sinto saudades de quando a turma era toda reunida, e você não tinha que escolher com quem ficar.
Tenho saudades de ter todas as escolhas à minha frente, como um baralho de possibilidades, e escolher qualquer carta era simples questão de afinidade e prazer. Saudades de quando era tudo novo, mágico, e eu não me sentia pressionada a nada. Saudades de quando estudar era simples questão de entender, não de passar para se formar tão cedo quanto possível, como um mecanismo intrínseco, unidirecional. Saudades de estudar sem pressão alguma.
Saudades de me sentir digna, capaz e com propriedade no que digo, pois tudo é tão incerto. Não sei mais se meus sonhos são dignos de nota: eles estão focados demais estudando para saber o mínimo necessário, afinal, as provas exigem tanto.
Sou uma pessoa que foi feita para sair dos moldes, sei disso. Mas estou enquadrada. Fui moldada. E não estou no molde que meu artista imaginou ao me desenhar.
Eu sou o desenho que transborda do quadro, que arranca limites. Eu sou a pintura cuja tinta escorre pelo chão do museu. Os seus visitantes saem de lá com minha tinta em seus sapatos, em suas roupas, diferentes de como entraram.
Não olho para os outros quadros. Eles talvez estejam bem como são, não me importa. Se nasceram para ser inertes, não eu!
Eu sou uma pintura dinâmica.
Só às vezes esqueço,
me enquadro.

sábado, 5 de maio de 2018

Só lhe peço que não peça

Boa noite.

Escrevo-lhe esta carta para fazer um simples pedido: por favor, não me peça.

Pode parecer simples pra você, que não se exige, que não se abala, que apenas vive, dirige, progride. Somos adjetivos diferentes, meu bem, e por mais que de longe você me ache uma pessoa interessante, de perto eu talvez seja mais ainda, mas o meio termo me abala, então quando quiser me entender, não tente, só entenda. Entenda ao menos o que aqui lhe dito. 

Não me peça para falar. Não somente isso, mas também não deseje que eu diga nada. Apenas esteja lá, e, se nenhuma palavra escutar, interprete os meus silêncios, até que eu diga algo. Pois os silêncios também são feitos de harmonia. E eu quero ver se você sabe lidar com isso.

Não tente me entender. Apenas esteja por perto no dia a dia. E então meu padrão de comportamento você talvez trace, mas não é tão simples, então entenda a minha complexidade, e a aceite como incompreensível, pois todos somos. Se isso não angustiar você, e ainda quiser permanecer, que fique.

Não espere nada de mim. Esperar não é construtivo e pode culminar em desapontamento. Em vez disso, sugestione algum lugar, algum desafio, alguma atividade. E então você não esperará, você verá. E eu não precisarei dizer, eu mostrarei, porque a realidade é feita de realizações, não de sonhos, embora eu sonhe muito, sim, vai entender.

Não me ache uma boa pessoa, finja que não liga. Não crie expectativas. Sou como qualquer pessoa, e ao mesmo tempo que me acho boa, me pergunto como posso fazer tanta burrada. É um dom e tanto, realmente.

Não corra atrás de mim, apareça. Pois é isso o que as pessoas que gostam fazem, estão presentes. Portanto, se quer me ver, esteja perto. Me espere. Me chame. Me acompanhe. 

Não tente, seja. Não tente parecer algo, não tente me dar um beijo, não tente me abraçar. Converse comigo, Me diz o que você pensa. Me deixa participar. 

Daí, veja se eu correspondo. Se eu corresponder, eu gosto de você, e você vê se gosta de mim, e já estaremos próximos o suficiente para entendermos um ao outro e ambas as nossas expectativas. Se eu não corresponder, é certo que não gosto de você, então seremos bons amigos, pois bem sei ser. 

Enfim, só lhe peço isso tudo, mas resumindo, que não peça. Não me peça para parecer atraente, simpática, livre, independente, resolvida, não me peça para ser uma boba contente. Não sou isso o tempo todo. Sou carente, dependente, indecisa, fragmentada em busca dos meus próprios pedaços. Mas também posso ser firme, objetiva, pragmática, realista, calma, insistente, esportista. Não sou suas expectativas, mas podemos crescer juntos, se você topar. E quem sabe até aonde podemos chegar?

Enfim, termino esta carta. Se ela chegará a seu destino, não saberei. Mas que fique documentado, pois você a quem não pedi que não pedisse, você que isto não leu - você eu esquecerei.

segunda-feira, 30 de abril de 2018

Não que fosse necessário, mas meu pedido único é que imagine, caro leitor, ao menos por hora. Então lá vamos nós. Para que vivesse bem, ele não era capaz de desimportar. Tudo em sua plenitude, em sua necessidade, lhe consumiam as forças. O ar que respirava. A fita que sobrava. A mensagem não lida ou lida. A hora do almoço. A necessidade de conseguir, a falta crônica. Tudo o era preenchível, deixando-o um pouco de tudo.
Contudo, de tanto recolher respostas, perdera-se em suas próprias ponderações. Não sabia mais onde estava, quem se tornara. Sua juventude estava ameaçada. Sentia-se como um quadro surrealista.
Foi aí então que soube. Caro leitor, compreenda, o intuito aqui não é abordar o modo como ele soube, se me permite abafar sua curiosidade, mas não é isso, é que tenho outras tarefas para fazer. Porém, vou abrir uma exceção para evitar dismorfias no corpo do texto. Após ultrapassar uma porta, uma porta em um beco por onde o personagem nunca havia entrado. Então, aí, ele pôde ver seu futuro, de algum modo. ele pode sentir-se ali. E ele sentiu algo que seus hábitos não o proporcionavam, nem sua coleção de certezas: Calma.
E, sabendo que ficaria tudo bem, ele fechou a porta. Mas não a transpassara! Voltou pelo mesmo beco por onde entrara, e caminhou. Ao olhar para trás, o beco não mais ali estava. Fora um sonho?

Chegou em casa, tirou os sapatos. pensou em coloca-los na mesma prateleira onde sempre colocava. Mas os deixou do lado de fora, perto da porta, jogados no chão. Pensou em esquentar a comida. Um impulso o fez postergar para dali a pouco. Andou. Jogou-se no sofá. Fechou os olhos por um instante e sorriu, sem querer, pois era como se uma brisa leve tocasse seu rosto, numa tarde de calor, afagando seus cabelos gentilmente.
Ele sabia! Estava tudo certo. Sem pressa, aos poucos, tudo tem sua hora, pensou, e, mais do que isso, sentiu. Ainda podia sentir a sensação de estar do outro lado da porta. O seu futuro estava ali, o esperando, para recebe-lo. E sentiu-se tão grato que, por tanta gratidão, decidiu dar ao presente sua calma, pois com sua calma, ganharia também seu coração, colocando-o em tudo que fizesse, não para depois, mas a partir de agora, pois o futuro começa daqui a pouco.

E, assim, fechou os olhos, seguro de que, por mais que aquela sensação passasse, ele não esqueceria, e jurou depositar a sua fé no dia de hoje. Pois, naquele momento, teve a certeza de ser uma boa pessoa. Não precisou mais recolher emoções, histórias, sentimentos. Ele era ele. Ele não era a competição que ele sentia ao redor. Ele não era o número de vagas. Ele não era a pressão que ele mesmo se impunha. Ele era o presente dele mesmo e dos outros, no presente.

quarta-feira, 25 de abril de 2018

Se tem uma palavra da língua portuguesa que é gostosa de sentir é ternura. Pra mim, ternura é a expressão do amor. Ternura é inatingível se não for genuíno. Apesar disso, eu vejo ternura em situações bobas do dia a dia.

Sinto ternura e é quando vejo que amo minha avó, única viva por parte de pai e de mãe, quando ela escreve no whattsApp sozinha, sem que ninguém a ajude, em sua casa, falando que está "em horacao por todos voces". Assim, sem til, sem cedilhado no "c", sem acento circunflexo. Porém a horacao dela teve muito mais charme porque eu sei do seu verdadeiro sentido. Eu sei que a horacao não será apenas escrita, que ela será sentida, feita e desejada. Sei do amor que existe por trás de cada palavra na minha tela que aparece. Sei que tudo isso é fruto da inteligência dela e da vontade de estar perto das filhas, mesmo com suas seis casadas e já com seus próprios filhos. Apesar dos seus esquecimentos, da sua eventual tristeza ocultada, do esforço para andar, das breves, porém presentes, reclamações pontuais. Minha avó conta suas histórias como se tivessem sido vividas ontem. História de vida bem triste, porém repleta de superação que é o pilar de uma família grande, se construindo. Muito foi feito porque ela se superou. E hoje está aí, no WhattsApp, enviando mensagens, preocupada com as filhas que voltam tarde pra casa e com os netos. E ainda sorrio com suas mensagens: desorganizadas, surpreendentes, fora de ordem, desconexas, que quase ditam o esforço do aprendizado. Mas uma hora, a mensagem vai, e a gente lê, todo bobo, com carinho. Desse tipo de avó que dá mesmo vontade de abraçar pra sempre. Uma mensagem pra cada filha, e sempre uma oração pra todo mundo, ou horacao, que é a melhor dos mundos.

 Outra forma boba de sentir ternura é com o segurança da porta de entrada dos fundos da minha faculdade. Normalmente, ele estaria ali hoje, mas deve ter sido promovido a guarda da frente, pois mudou de posição. Fui indo como sempre pra faculdade, mochila nas costas, com um Sol bonito no céu. Passando pelo portão, lá estava ele de guarda, como sempre, e eu, já acostumada. Então ele me acenou e disse: "boa aula!" e sorriu. Foi um gesto simples, porém me transmitiu uma tranquilidade e retidão, e ternura, que poucos bons dias são capazes de oferecer. E eu vi como eu sou mesmo boba, quando no ano passado, quando eu disse isso à minha terapeuta, ela riu, e eu, rindo, quase chorei, foi por pouco. Porque o amor é  fácil de ser transmitido, só não é fácil estar aberto para isso, a ponto de percebê-lo. Quando você o percebe, você o multiplica, porque ele é contagioso. Mas não se pode cultivá-lo em laboratório, precisa-se vivê-lo se quiser usufruir de seus benefícios, e ensiná-lo.


terça-feira, 24 de abril de 2018

Talvez se eu desconhecesse o ódio, eu sofresse menos com ele. Se eu desconhecesse a inveja, talvez eu fosse menos afetada, e pudesse viver minha vida sem percalços. Se eu desconhecesse a desigualdade, eu viveria com menos pesar em minha consciência. Se eu desconhecesse a cobiça, talvez eu precisasse pensar menos. Se eu desconhecesse a maldade, talvez eu sorrisse mais como sorria quando criança. 

Contudo, conhecendo o ódio, eu posso disseminar o amor. Conhecendo a inveja, eu posso me blindar e não alimentá-la. Conhecendo a desigualdade, posso lutar por um mundo mais igual. Conhecendo a cobiça, posso cobiçar o bem. Conhecendo a maldade, posso me prevenir que algo de mal aconteça e estar mais preparada para situações futuras.

Não vivemos apenas nossos desejos, vivemos a realidade, e estamos aqui não para ignorá-la, mas para fazermos parte dela e transformá-la ativamente. Para isso, vivemos.

sexta-feira, 9 de março de 2018

A saudade não é de casa, é do que eu recebo lá.
O mundo é muito necessitado. A todo o tempo você é requerido, suas habilidades, suas ideias. Sua força. E pouco te dá. O quanto você trabalha de graça e o quanto você recebe sem que peça? Esta conta está desproporcional para o lado que você sabe qual é. 
Por isso, este final de semana, eu queria voltar pra casa. Porém o carro não está aqui, ficou na vistoria  do seguro para avaliação de um amassado. 
Porém a semana que vem é de provas, e eu não tenho tempo pra ficar passeando por aí.
Porém eu vou fingir que eu queria mesmo ficar aqui, e até que não sei se é mentira.
O problema, daqui, é que eu não recebo.
Pensei que as relações humanas fossem mais fáceis. As pessoas fingem muito serem o que não são são, e não te dão, portanto, o que elas enganam ter. 
Justamente por isso, esse fim de semana, você já sabe.
(Queria voltar pra casa!)

quarta-feira, 7 de fevereiro de 2018

De chata pra emocionante

Se você pensa que estudante de medicina é aquela estereotipia de um sujeito que alguns dias veste-se impecavelmente e, em outros, mais parece que esqueceu o pijama no corpo, com a maquiagem à prova d'água de olheiras no rosto e de aspecto cansado, mas sempre de pé, fazendo perguntas e anotando a aula........ você está completamente correto, é isso mesmo que somos.

Atualmente, a estudante de Medicina que sou está no nono período da faculdade, foram 4 anos que podem ter passado rápido a olhos distraídos, mas cada período cursado durou exatamente o tempo que cada período tem.

O presente período é um misto de, primeiramente, incertezas, por estrear um novo ciclo - o internato! -, felicidades, pela oportunidade de lidar mais frequentemente com o paciente, fortalecendo o aprendizado na relação médico-paciente, e criando mais confiança durante as consultas, e decepções, quando a realidade não condiz com suas expectativas, e há dias em que o aprendizado não nos alcança, e voltamos pra casa com uma sensação de incompletude.

O internato da minha faculdade funciona da seguinte forma: a turma que antes era composta por 50 alunos é dividida em 3 grupos de aproximadamente 17 pessoas, os quais rodam em diferentes cenários da prática médica, alternando em especialidades. No meu atual rodízio, estou nas especialidades: Ginecologia e Obstetrícia, Dermatologia e Genética Médica.

Contudo, neste texto, pretendo falar somente sobre o dia de hoje em Genética Médica, o meu 2º dia de atendimento nesta especialidade pouco falada.

No turno da manhã, eu e outras 4 colegas atendemos um paciente de 3 anos com investigação de Transtorno do Espectro Autista - TEA.   Pode-se investigar, porém o diagnóstico de Autismo não é dado antes de a criança completar os 6 anos de idade, porém medidas terapêuticas já podem ser tomadas ao indício de atraso de desenvolvimento neuropsicomotor.
À tarde, tivemos aula teórica com o professor médico Pediatra Neonatologista Geneticista. Como os horários do rodízio não são muito respeitados, pois somos liberados depois da hora muitas vezes, além do assunto ser dado massivamente, muitos alunos reclamam deste rodízio. De fato, é bem cansativo! Mas isso não vem ao caso... Falemos de coisas boas! Nesta aula de hoje, falamos sobre síndromes cromossômicas e um dos transtornos apresentados foi a Síndrome de Down, causada pela trissomia do cromossomo 21 (por isso que o dia da Sd de Down é dia 21 de Março!!!! Descobri isso hoje também hahaha). Tal aula, densa como é, poderia tocar alguém? Se emocionar com Genética? O quê??

Ah, mas não se trata apenas de genética. O professor começou a falar sobre a Síndrome, que não é sempre que a habilidade intelectual é afetada, alguns fazem faculdade, têm relacionamentos normais, etc etc etc. E um ponto que chama minha atenção é que esse professor não se limita às adversidades de qualquer doença ou condição, ele aponta também as qualidades positivas, singularidades. Apontou, por exemplo, que crianças com a Síndrome alcoólica Fetal estão sempre alegres, felizes, sabia? E pacientes com Sd de Down adoram e precisam de carinho, cuidado, adoram abraçar os outros, e que em uma das consultas um paciente olhou para ele e disse: "Eu te amo" no meio da consulta, "do nada". E isso tudo me emocionou, porque é muito genuíno uma pessoa fazer isso, e justamente quem sofre mais preconceito da sociedade é capaz de demonstrar tanta afeição pelo próximo, inesperadamente. Eles são capazes de nos surpreender, e, na sociedade em que vivemos, a programação da vida dia após dia pode mecanizar até mesmo o que deveria ser espontâneo, como os sentimentos. Quem não segue estritamente os preceitos vividos na sociedade atual, demagoga, politicamente correta, seja por uma condição genética ou não, nos mostra um lado que por vezes esquecemos existir, a espontaneidade, que não é crime, mas por vezes, aparenta ser.

E foi isso que me tocou, na aula de Genética, às cinco da tarde.

Quem diria.

terça-feira, 6 de fevereiro de 2018

Degradê celino

Na minha época de colégio conheci um garoto fino, educado, intuitivo, na medida. Aos poucos ele ia tornando-se mais, e gradualmente, tornava-se menos, e até que às vezes desaparecia, para n'outro dia reaparecer, e todos achavam isso um pouco estranho, mas ele era adorável, e logo todo mundo simpatizava novamente com ele.

Estava entre todos nós, gostava de se inteirar dos assuntos, olhos vívidos, tão vívidos, que chegava a alcançar quase tudo... e, depois, como quem cansa, ele se afastava, se omitia, mesmo que ali permanecesse - não chamava tanta atenção, seu humor era mais selvagem, mais denso e frio. Mas sempre estava ali para quem o procurasse e quisesse ver.

Havia dias, geralmente no inverno, dias nebulosos, em que ele parecia escorrer por entre nós. Poderíamos pensar que estava ali, mas, já que nossos olhos não o alcançavam, ele dava uma escapulida, e tornava-se o que não podemos imaginar, afinal de contas, suas possibilidades eram muitas, apesar de não sabemos quais, exatamente. 

De uma sabedoria e inteligência ímpares, indecifráveis, que não se espera encontrar em ninguém, quanto mais em um adulto jovem. Escutava muitas histórias, ouvia muito de muita gente... Apesar disso, sua boca era um túmulo, e fofoca não o transpassava. ( Na verdade, ele acabava por ouvir tudo mesmo, ainda que não dissessem diretamente a ele, talvez, isso, até hoje).

Então, certa vez, fui espiar para entender melhor o que ele era, pois, curiosa como sou, notei muitas peculiaridades naquela criatura e, para a minha surpresa, meu amigo de um salto criara asas! Voou, voou, voou, tão alto que, quando pude perceber, ele se transformara em céu, um céu em degradê, de fim de tarde, bonito, mas escurecido, tonalizado gradativamente com azul acinzentado, azul escuro, azul marinho, azul claro, amarelo e abóbora, até o morro. Quis saber mais sobre ele, só que não pude mais alcançá-lo, estava longe...

Desde então, não mais o vira.

Só sei que Celino estará sempre aqui, de ouvidos bem abertos, de braços abertos, todo acalourado como sempre, querendo saber de tudo e com o olhar curioso de como quem tem um mundo inteiro pra saber como cuidar. 

E foi assim que se deu origem à lenda do menino Degradê Celino, que nunca mais por aqui foi visto, mas quem o viu, todo dia, à noite, dá uma espiadinha no céu, na esperança de revê-lo em sua forma de menino.


(Imagem retirada do Google )

terça-feira, 30 de janeiro de 2018

Espero que o cansaço não se torne ausência.
Que o esforço não seja sinônimo de cansaço.
Que não seja necessário medir esforços.

Espero que a luta seja quente
Que a batalha seja conjunta
De modo que a harmonia seja sentida gradualmente.

Que harmonia venha de fora pra dentro,
De dentro pra fora,
Multidirecional,
Sem que se pare pra pensar sobre isso.

Que seja sutil como as estações do ano
Que brilhe ao final de cada entardecer
Assim como "The golden Hour"
Que se viva a luz mais bela.

Que não seja necessário explicar
Mas que seja, somente - por inteiro
E que, sendo, também estejamos
De corpo e alma, como sem receios.

sexta-feira, 19 de janeiro de 2018

Fonte do amor

É difícil amar. O amor não é uma coisa boba, não é fácil praticar.
Mais difícil é porque temos um tipo de reservatório de amor. É possível que tenhamos muito para dar, mas é porque um dia muito recebemos, e ainda estamos a receber. Se você não tem amor pra dar, ou se você não sabe muito bem o que é isso, é provável que lhe falte amor também.
Amor não é perfeição, não é luxo, não é. Amor é o modo como levamos a vida, como lidamos com os problemas, como superamos os diversos obstáculos. Amar é sentir dor com um motivo para isso, e sofrer de um modo direcionado, assim, nem tudo lhe causará tanta dor, pois você está um pouco anestesiado pelas maiores dores que o amor carrega consigo. 
Amor é abrir mão de sonhos, de conquistas, para cuidar dos sonhos de outra pessoa. Amar é perder a direção, redirecionar o foco, ou ao menos postergar seus próprios anseios, para ansiar o anseio do amado. 
Ademais, o amor é paciente. Isso porque não há escuta apressada, não há uma boa resposta sem escuta, e não há uma boa resposta sem uma reflexão adequada. O amor é exigente, é preciso doação de ambas as partes para que ele seja maior e aja mais profundamente nos corações.
O amor tem muitas habilidades. Ele atua nos gestos mais sutis, nos olhares, na calma, nas respostas, no silêncio, no tempo, na perseverança, no chamado, no bater nas costas, no afago, na ajuda, na espera. O amor espera bastante, é paciente, espera sem que peçam para esperar, ele fica ali, observando, esperando, que até te surpreende. O amor faz coisas importantes mesmo sem que você entenda a importância do que ele faz. 
Para amar, é preciso estar disponível. Para ser amado, também. O engraçado é que o amor não exclui outros sentimentos: raiva. Desapontamento, frustração, que aparentemente são antagônicos. Mas não são. Antagônico ao amor é o rancor, que apesar de rimarem entre si, não têm nada a ver um com o outro. 
A ausência do amor deixa tudo muito frouxo. Todas as vezes que digo amor, aqui, não é de namorados, noivos, casados, mas o amor humano natural, intrínseco da nossa espécie. O amor dos pais pelos filhos. Dos irmãos, dos netos pelos avós. Mas, muitas vezes, esse amor fica escasso. Nossa fonte principal nem sempre está tão farta. E quanto menos recebemos amor, vamos doando menos, e recebendo menos, e dando menos, e quanto menos se dá, menos se recebe. Olhe: quando se sorri sinceramente, quase sempre sorriem de volta. Quando se chega abraçando sinceramente, é bom que abracem de volta. Quando somos bem acolhidos de manhã, nosso bom dia é mais animado. Pessoas recíprocas dão sentido ao nosso dia a dia... Não importa se é só por um segundo! Aquele segundo de cumprimentar ou de aperto de mãos. Alguns segundos alimentam  um dia inteiro (Mesmo que o resto da conversa seja uma perda de tempo ou chata). Que possamos aprender a conversar mais, a nos apoiar, pois o amor sozinho não se sustenta, e se todas as fontes secarem, onde buscaremos sentido no nosso dia a dia?

sexta-feira, 12 de janeiro de 2018

Boxe no trem da vida

Viagem de trem. Quantas horas são necessárias para se chamar viagem? A minha dura em torno de 1 hora diária na ida e na volta. Neste intervalo de tempo são várias situações dignas de observação.

Trens são locais cosmopolitas, principalmente em tempos de crise. Hoje, por exemplo, dois artistas dançaram no curto espaço do corredor de trem fazendo altas piruetas e malabarismos, passando em seguida com seus chapéus entre os passageiros, que mostraram interesse em ajudar.

Vendedores e produtos também é o que não faltam. Agora, eles expandiram suas vendas para além dos tradicionais doces, vemos também pano de pia, esponjas, barbeadores elétricos a 7, eu disse 7 reais e testando na hora!

Há outras coisas: o moço que todo dia as 6:15 vende seu jornal, Extra, passa entre os passageiros estampando a primeira página; o moço com suas 5 garrafas térmicas bem cedo, anunciando café, achocolatados, para os que saem de casa apressados e em jejum; a moça com a "baaaala de coco", que grita um grito agudo, pra atingir o ouvido de todos os que queiram ou não comprar, só 1 real.

Há promoções surreais, vendem até a caixa fechada, atingiram um patamar de profissionalismo que, de antemão, mostram a data de validade, para o ano que vem, valorizam a marca, comparam o preço com o do Guanabara, que é pra não perder dinheiro hein, gente!

Há ainda os sem noção. Vendedores passam a jato anunciando de um jeito enrolado, com um só produto na mão, algo que eu ainda não descobri o que é, nem ouvi o preço.

Tem vendedor que sabe vender, e tem vendedor que sabe aparecer. Tem vendedor que você nem enxerga porque tá dormindo nessa hora, se conseguir um lugar pra sentar.

Tem de tudo, enfim. Cantores, palhaços, caridade, gente que te olha estranho, gente que fica te olhando o tempo inteiro e você finge que não tá percebendo, gente falando da própria vida pra desconhecidos (melhor tipo), gente que se encontra, que se despede, que grita ao telefone.

Gente que se esbarra, se aperta, pressiona os outros pra conseguir sair no ponto certo, segura a porta, se segura. Muita gente põe fone no ouvido. N'outro dia tinha gente cantando, e o vagão inteiro começou a cantar junto músicas religiosas.

Tem gente que disputa lugar assim que as portas abrem mesmo com o trem todo vazio, e não importa se você é ou não mais fraco, é perigoso, é a vida real. Isso tudo tão cedo.

É tão cedo e todo mundo tá lutando pra sobreviver. Eu estava fazendo boxe, decidi sair porque não estava gostando muito. Mas, a partir de agora, vou colocar as luvas assim que acordar, porque afinal, minha gente, a vida é uma luta.

terça-feira, 9 de janeiro de 2018

Atualmente, (e, sim, começo este texto de modo clichê, com um advérbio temporal, pois o que eu sinto sobrepõe a importância de uma boa estética textual), sinto que nada que eu faço é suficiente. Já havia escrito tal frase, porém o que eu sinto continua com esta necessidade de ser entendido e decifrado. 

Sinto que nada o que faço é suficiente, para mim e para os outros. Sinto que não dou conta. Sinto que o tempo corre muito rápido, e não consigo acompanhá-lo. Sinto uma necessidade de viver, de fazer acontecer, que não é necessário ser sentido, pois vejo isso nos outros. Procuro motivos par eu estar assim, saio do senso comum, me isolo ou me enturmo. Enturmar-me, apesar de deixar-me por vezes cansada, me ajuda a gostar de aproveitar o tempo. Isolar-me me permite maior concentração nos deveres, estudos, mas enjoo da minha própria companhia, sinto que sou pouco criativa, não teço muitos pensamentos comigo mesma, parece que minha mente trabalha sozinha, pensa muito, de modo que meus estudos demoram para andar. 

Mas não é raro não saber o que falta, ou o que excede (acho que quase nada). Só que sinto falta de mim. Dizem que eu me cobro demais, e que isso faz mal. Porém não sei como faço isso, e minha cobrança é bastante improdutiva por sinal. Talvez eu me cobre tanto por não atender ao que pareço ser. Talvez eu me cobre para suprir meu ego inflado, que eu não consigo desinflar, ou ao menos é isso que sinto. Não sei bem, gostaria que as palavras se escrevessem para mim. 

Quero olhar para o futuro. Quero agarrar cada oportunidade como se minha vida dependesse daquilo. Quero ser a minha melhor versão. Mas não alcanço. Talvez eu viva demais no passado, ou no campo das possibilidades. Talvez, se eu buscasse mais o presente, não ligasse tanto para pormenores... ahh, mas como? Se por vezes me ausento de mim mesma? 

Sim, me cobro demais. Gostaria de me permitir, sentir meus sentimentos, compreendendo mais o lado dos outros. Não me isolar emocionalmente. Apenas isso. Sorrir a felicidade do meu próximo, experimentar o que ele julga bom, para viver o que estou presenciando. E entender que as coisas são realmente difíceis, e se eu não conseguir alguma coisa, não é porque eu não tentei, é porque os outros foram melhores. Assumir isso. Assumir a responsabilidade das minhas decisões. Assumir quando eu não conseguir acordar cedo para estudar sem colocar a culpa em outros fatores. Assumir que dormir é bom e foi isso que eu fiz, e faz parte da vida, e que bom que eu pude dormir e acordar bem.
São as menores coisas que importam. Não são necessariamente as vitórias. É sobretudo sobre as suas intenções.

Ah, e uma frase que foi dita num filme o qual assisti anteontem, não tem a ver com o texto, mas a mensagem é ótima!


"Quando tiver que escolher entre estar certo e ser gentil, escolha ser gentil."
-Filme "EXTRAORDINÁRIO"

quinta-feira, 4 de janeiro de 2018

Ser blindado hermeticamente contra decepções
Barrar a entrada de toda forma de sentimento
Não se enganar pois todas as promessas são vãs
Saber de antemão o desfecho das conversas
Pra mim, sim é não
Chegue mais longe, me toque sem tato
Meu coração tá armado e trancado
E se queres saber onde está a chave
Nem mesmo lembro a forma do cadeado.

terça-feira, 2 de janeiro de 2018

Amor via telefônica.

Hoje passei o dia inteiro sozinha, ou melhor, eu e meus dois cachorros - um vira-lata de 10 anos que é meio pamonha e uma cadela de 1 ano estilo Golden (just-a-half), que é mil vezes mais inteligente que o vovô. Ela é minha companheirinha (de quintal!).

Contudo, não foi um dia ruim, mas bem atarefado, me impus tarefas e quase terminei todas, deu um trabalhão. No final da tarde, comecei a estudar. Daí o telefone toca - primeira vez à tarde, mas a 5ª vez no dia (das quais, 2 foram minha avó perguntando se eu tinha dormido bem e se eu tinha almoçado, 1 foi trote, 1 foi propaganda de um "produto totalmente natural para dormir"!!!!!!). Resumindo, foram várias pequenas corridas durante o dia para atender antes de o telefone parar de tocar, para basicamente nada urgente ou baboseira.

Daí, na 5ª vez, é a minha tia. Sim, minha tia, que eu amo muito, falando várias coisas, dentre elas, nada. Perguntou basicamente como eu estava, se eu não estava em apuros, se eu queria ajuda, mas de um jeito que eu me questionei por um momento se eu tinha 5 anos. Eu estava mesmo sem paciência pra isso! 

Nesses momentos, gostaria de ter uma balança em minha voz pra assumir o tom correto, nem muito rude, nem muito amigável, nem muito agudo, nem muito grave, pra deixar claro que aquela conversa não estava sendo apropriada. Mas essa balança não existe, e o tom amigável e agudo persiste.

Daí, então, como manda o protocolo, ela disse, ao final da ligação, seu habitual "eu te amo!". Pensei por um momento, hesitei na minha resposta. Amor é dor? Se sim, não é necessário eu replicar a frase, afinal, se ela me ama, sou amada, independentemente se o amor é mútuo. Ok, soa egoísta, mas a questão nem é essa! Minha tia diz "eu te amo" pra qualquer um. E isso enche o saco no momento em que, quando você precisa de um favor, a resposta mais comum é "não", com o amor de acessório. Amar não é isso. Não funciona assim. Não se ama ao final de uma ligação. Amar é uma palavra importante, não se pode pronunciá-la indiscriminadamente, pra ela não se tornar banal!

Mas, por um lapso de segundo, respondi, como um eco: "também te amo!", e senti como um alívio transmitido via telefônica. E pudemos desligar a chamada. Fim do papo, fim da enrolação, segue a vida. Logo em seguida, pude perceber por quê, pode entender a complexidade que existe por trás dessa frase batida pela minha tia, que ela repete tão enfaticamente em seus telefonemas aleatórios. Não se interessa para quem ela diga que ama, talvez ela nem dê o valor que o seu amor verdadeiramente tem, e que é gigante. O que vale pra ela é quanto amor ela consegue receber de cada "Eu te amo" que ela pronuncia, e por isso ela diz isso em cada ligação, porque é o amor dos outros que ela procura, quando abre mão do seu.

E eu penso que o que ela realmente procura é um "eu te amo" sem que ela precise falar isso antes. Talvez o marido dela não diga que a ama, e ela procure isso nos outros. E por ela procurar tanto, isso venha demasiadamente escasso, porque às vezes, o que muito se procura, pouco se tem. E nisso, ela insiste em pronunciar o "Eu te amo".

Na verdade, o que eu acho é que se cansou de esperar a iniciativa dos outros.